23 Fevereiro 2022
Francisco permitiu que a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro continue celebrando exclusivamente em Rito Tridentino, isentando-os do decreto de julho de 2021 que restringia o uso da liturgia pré-Vaticano II.
A reportagem é de Xavier Le Normand, publicada por La Croix, 22-02-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Papa Francisco decretou que a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP), um grupo de tradicionalistas católicos que originam de uma parte do cismático movimento lefebrvistas, podem continuar a celebrar missas e outros sacramentos de acordo com o Rito Tridentino.
O decreto, o qual foi assinado por Francisco em 11 de fevereiro e apareceu no site da FSSP esta semana, constitui uma isenção do “motu proprio” publicado pelo papa no último mês de julho para restringir o uso da liturgia pré-Vaticano II.
O padre Benedict Paul-Joseph, superior do distrito francês da Fraternidade, chamou o novo decreto de “grande alívio”.
O decreto diz que os membros da FSSP têm “a faculdade para celebrar o sacrifício da Missa, e conduzir os sacramentos e outros ritos sagrados, assim como para realizar a Liturgia das Horas, de acordo com as edições típicas dos livros litúrgicos, conforme o Missal, o Cerimonial, o Pontificial e o Breviário Romanos vigentes em 1962”.
Isso significa que os padres da FSSP podem continuar seguindo a liturgia pré-conciliar “em suas próprias igrejas ou oratórios” e para “missas privadas”.
Eles podem também celebrar os sacramentos de acordo com a fórmula tridentina usada antes das reformas litúrgicas decorrentes do Concílio Vaticano II (1962-65).
Em todos os outros casos, eles necessitarão obter autorização do bispo local.
Com efeito, o novo decreto constitui uma isenção do Traditionis Custodes, que foi emitido em julho passado.
O padre Paul-Joseph disse ao La Croix que se este “motu proprio” tivesse sido aplicado ao FSSP, “teria sido uma negação pura e simples do que somos, e teria sido difícil imaginar a continuação de nossa existência”.
Ele disse que, com este decreto, “o Santo Padre considera que temos nosso lugar na Igreja como somos, contribuindo com o que podemos”.
O decreto veio depois que o padre Paul-Joseph e o padre Vincent Ribeton, reitor do seminário histórico da fraternidade, viajaram a Roma em 4 de fevereiro para se encontrar com Francisco.
Durante a reunião, o papa garantiu aos padres que os institutos criados especificamente para celebrações segundo a liturgia tridentina não foram afetados por Traditionis Custodes – o que significa que mais isenções poderiam ser concedidas.
Francisco explicou que os padres claramente visados pelo “motu proprio” – principalmente no continente americano – são aqueles que “aproveitam” a liturgia pré-conciliar para “manifestar sua oposição”, assim “politizando” essa forma litúrgica.
Esses esclarecimentos completam a carta aos bispos que o papa publicou ao lado da Traditionis Custodes, na qual deplorava o fato de que a liturgia tridentina pudesse ser “explorada para ampliar as lacunas, reforçar as divergências e incentivar as divergências que prejudicam a Igreja, bloqueiam seu caminho, e expô-la ao perigo da divisão”.
A Fraternidade Sacerdotal de São Pedro foi erigida em 1988 por vários membros da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX) que decidiram não seguir seu fundador e superior, o arcebispo Marcel Lefebvre, no cisma.
Lefebvre (1905-1991) foi excomungado automaticamente em junho daquele ano, quando ele e outro prelado consagraram quatro novos bispos sem mandato papal.
O papa João Paulo II possibilitou que os padres lefebvristas permanecessem em comunhão com Roma quando emitiu o motu proprio Ecclesia Dei Adflicta, que exigia que fossem tomadas “as medidas necessárias para garantir o respeito às suas legítimas aspirações”.
Embora Traditionis Custodes parecia voltar atrás nessas garantias, o decreto de Francisco parece tê-las restabelecido – pelo menos para a FSSP.
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Os ex-lefebvristas ganham isenção das restrições à Missa Antiga - Instituto Humanitas Unisinos - IHU